Márcio Lopes conquista lugar entre os melhores enólogos de Portugal. No ano em que celebra uma década a fazer os próprios vinhos, acaba de ser distinguido com os prémios “Enólogo Revelação do Ano” 2019 e “Singularidade” 2019, pela Revista de Vinhos – A Essência do Vinho e pela revista Vinho – Grandes Escolhas, respetivamente, sendo o único profissional do mundo dos vinhos a ser premiado com dois “Óscares” este ano. E garante estar firme no caminho traçado, produzindo os seus vinhos na Região dos Vinhos Verdes, no Douro e até, imagine, na Ribeira Sacra, em Espanha. Um percurso de extrema dedicação, com escassos recursos, mas um só objetivo: a excelência. Vinhos sem máscaras, autênticos, que expressam o melhor da natureza e prometem momentos inesquecíveis à mesa.
No início do ano as revistas especializadas realizam as Galas de Entrega de Prémios, para distinguir os melhores profissionais e empresas do setor, pelo trabalho desenvolvido no ano anterior. São assim entregues os muito aguardados “Óscares” do Vinho. Este ano todos os holofotes iluminaram o enólogo Márcio Lopes, que arrecadou os prémios “Enólogo Revelação do Ano” 2019 e “Singularidade” 2019, pela Revista de Vinhos – A Essência do Vinho e pela revista Vinho – Grandes Escolhas, respetivamente, tendo sido o único profissional do mundo dos vinhos a ser premiado duplamente nas referidas Galas.
“Agradeço a muito boa gente que me fez chegar aqui, em particular à minha família, à minha equipa que é fantástica, aos muitos apreciadores dos meus vinhos… Confesso que há 15 anos eu queria fazer Vinho do Porto e ir para o Douro, mas acabei por ir fazer a minha verdadeira vindima em Melgaço, com o enólogo Anselmo Mendes. Apanhei uvas, trabalhei na adega, acartei mangueiras, bombas, andei de enxada no meio da vinha. E hoje digo: obrigado Mestre Anselmo Mendes, por me ter ensinado a fazer de pequenas coisas algo especial”. Palavras de Márcio Lopes, no passado dia 14 de fevereiro, após receber o Prémio Grandes Escolhas “Singularidade” 2019, na Gala que se realizou no Velódromo de Sangalhos, em Anadia. Visivelmente emocionado, deixou ainda umas palavras de esperança a quem, como ele, trabalha muito por um sonho: “Não estava mesmo à espera desta distinção. Quem está a começar que acredite, que invista, nem que seja pouco, como o que temos, que trabalhe muito e há de aqui chegar!”.
Márcio Lopes é um jovem enólogo com um sonho e um plano de vida: fazer vinhos especiais, que façam sobressair o melhor que a natureza tem para dar. Escolheu um caminho difícil, tendo começado do zero, aliás, como costuma dizer, começou do “menos um”. Nasceu há 37 anos no Porto e é filho de mãe costureira e pai vendedor, não herdou propriedades, nem riqueza, mas herdou o gosto pela agricultura dos seus avós e teve todo o apoio para a Licenciatura em Engenharia Agronómica, que completou em 2006. Ainda no decorrer de 2005 começou a trabalhar com reconhecido enólogo Anselmo Mendes. Seguiu-se a Austrália (2008), onde realizou duas vindimas, mais especificamente em Rutherglen e na Ilha da Tasmânia. Em 2010 encheu-se de coragem e arriscou lançar-se na produção de vinhos próprios: Pequenos Rebentos (Região dos Vinhos Verdes), Proibido, Permitido e Anel (no Douro Superior) e Telegrafo (na Ribeira Sacra, Espanha), vinhos já reconhecidos e premiados a nível nacional e internacional. Atualmente a empresa de Márcio Lopes produz 80 mil garrafas por ano, correspondendo cerca de 20 mil a edições especiais, limitadas e numeradas, exportando já para 14 países da Europa, América e Ásia.
Ao longo destes últimos dez anos, os vinhos de Márcio Lopes foram conquistando as atenções. O projeto Márcio Lopes Winemaker, apoiado por uma equipa empenhada e resiliente, assenta na autenticidade, para o conseguir, muitas vezes fica com as uvas que outros não querem, e explica-o: “ninguém quer trabalhar com baixos rendimentos, andar com escadotes a trabalhar uma vinha de ramada ou nos degraus de uma escada a tratar uma vinha de enforcado, recorremos a castas autóctones de cada região e também procuramos castas em desuso para lhes darmos uma nova vida”. É um risco levado ao extremo, uma atitude perante a natureza, gerida com muito suor, paixão e esperança. “Arriscamos e tentamos não fazer mais do mesmo, pagamos melhor as uvas com base em métodos que promovam a sustentabilidade, não usamos herbicidas, devolvendo vida aos solos, investimos em vinhas velhas, para garantir vinhos com carácter, distintos”, destaca, salientando que, no final, “o vinho tem de expressar a terra e as gentes, um património singular e único”. Exemplos disso são, entre outros, os vinhos brancos Pequenos Rebentos à Moda Antiga, Pequenos Rebentos Selvagem, Permitido Branco de Centenária, e os tintos Proibido à Capela ou Proibido Vinha Velha do Pombal.
Em 2015 foi adquirida uma vinha com cinco hectares, no Douro Superior, em Vila Nova de Foz Coa, sendo composta por um hectare de vinha velha, com várias castas misturadas, tendo os restantes hectares sido transformados num campo experimental de castas antigas. No início de 2020 foi realizado o investimento numa adega, em Melgaço, garantindo assim maior autonomia e controlo de qualidade. Depois do reconhecimento, enólogo e equipa, têm um caminho bem definido a percorrer, seguramente com percalços, mas sempre passo a passo, com o foco na excelência, nem que para isso “tenha de dormir em cima das barricas, para atender a qualquer alteração!” sublinha. Mas, no final, tudo se resume a algo bem simples: “acima de tudo o que mais desejamos é fazer as pessoas felizes”, remata Márcio Lopes.