Na sexta-feira, dia 14 de Fevereiro, a Bairrada voltou a ser palco do evento nacional ‘Prémios Grandes Escolhas’, que a revista com o mesmo nome realiza anualmente para galardoar os melhores do ano transacto. O momento mais alto da noite acontece quando João Geirinhas e Luís Ramos Lopes, directores da Grandes Escolhas, anunciam os vencedores dos ‘Troféus Grandes Escolhas’. Este ano, a Bairrada venceu em duas categorias: Cooperativa do Ano, para a Adega de Cantanhede, e Produtor Revelação, atribuído a Luís Gomes, dos vinhos GIZ.
Na icónica lista dos ‘Top 30 do Ano’ figuram três vinhos da Bairrada: o ‘Série Ímpar Sercialinho branco 2017’, uma estreia da Sogrape; e dois tintos, o ‘Gene 2017’, da Kompassus Vinhos; e o ‘Quinta das Bágeiras Pai Abel 2013’, de Mário Sérgio Alves Nuno.
Testemunhos da revista Grandes Escolhas sobre os grandes laureados da Bairrada:
Cooperativa do Ano: Adega de Cantanhede
Com quase 66 anos de idade, a Adega de Cantanhede continua no caminho que decidiu trilhar há alguns anos e que tão boa prova tem dado. Em 10 anos operou-se uma revolução em Cantanhede, a começar pela qualidade dos vinhos, reconhecida por muitos enófilos nacionais e internacionais.
É o maior operador da Bairrada, em termos de selos de certificação, atribuídos pela Comissão Vitivinícola da Bairrada. É também das adegas cooperativas financeiramente mais saudáveis do país. Há pouco mais de uma década, esteve à beira do precipício, tal como as suas congéneres da região, hoje todas ‘falecidas’. Mas, não só sobreviveu como passou para uma situação em que, quando começa a vindima, tem as contas saldadas do ano anterior. O seu presidente, Victor Damião, dizia-nos que, antes, para pedir dinheiro, “a adega tinha que ir aos bancos; hoje são os bancos que vêm à adega”. A folga financeira permite comprar novos equipamento e investir em projectos considerados de nicho, realizados com uvas ‘especiais’, algumas oriundas de videiras com um século ou mais. E permite investir na exportação, que representa hoje 35% da produção e tem aumentado sempre. Ser grande e financeiramente saudável são duas coisas muito boas num produtor de vinhos. Mas a parte que mais nos interessa, a nós enófilos, é a da qualidade dos vinhos. E, aqui, também Cantanhede se tem exibido a grande altura. Uma grande parte da responsabilidade cabe à equipa de viticultura, que todo ano aconselha uma centena de associados e está particularmente activa na, sempre crítica, altura das vindimas. Isto porque também a enologia assim o exige. À frente está o experiente Osvaldo Amado, mas, no dia-a-dia, os trabalhos são assegurados por Ivo Almeida. O resultado tem sido muito bom, proporcionando espumantes e vinhos tranquilos de belíssima qualidade, muito bem classificados ao longo de 2019 pela equipa de provas da Grandes Escolhas. Melhor os vinhos possuem quase sempre excelente relação preço/qualidade. Ser considerada a adega do ano é apenas por isso, uma consequência deste magnífico trabalho.
Produtor Revelação: Giz by Luís Gomes
Atrás deste nome lacónico está um projecto de pequena dimensão e de grande personalidade. O clima marítimo, o solo calcário, as vinhas centenárias da Bairrada e o talento de Luís Gomes deram origem a vinhos que não deixam ninguém indiferente. Luís possui actualmente 5 referências de Giz: branco, dois tintos e, lançados recentemente, rosé e espumante.
Dividindo o seu tempo entre as vinhas e a adega, Luís Gomes está na vanguarda da nova geração de produtores na Bairrada. Formado em Bioquímica pela Universidade de Coimbra, trocou o negócio bem-sucedido na área da sua formação pela vida incerta de um produtor de vinhos. Mas, antes, tirou o Mestrado em Viticultura e Enologia, ministrado em parceria pela FCTUP e ISA. Para Luís Gomes, obter conhecimento necessário antes de avançar para qualquer desafio sempre foi uma condição indispensável. Sendo de Coimbra, naturalmente, sentiu atracção pelas terras da Bairradinas. A pouco e pouco chegou a conhecer várias vinhas velhas da Região, muitas delas destinadas ao abandono. Conseguiu dar início ao projecto, arranjando 2 hectares de vinha centenária com predominância de Baga e Maria Gomes, repartida em 7 talhões. O solo, nesta zona da Bairrada, entre Mealhada e Cantanhede, é argilo-calcário, com prevalência evidente de calcário. Em algumas vinhas é só pedra branca, que protagonizou o nome da marca – Giz. Em 2018 lançou as suas primeiras colheitas – um branco de 2016 e dois tintos de 2015, sendo um deles só de uma vinha, alcançando o reconhecimento imediato por parte da comunidade vínica. Os tintos de 2016 foram ainda mais afinados e com um carácter mais distinto entre os dois. No final do ano passado surpreendeu com um sofisticado rosé, também de vinha velha, estagiado em barrica usada com bâttonage e um belíssimo espumante de Baga, com estágio sobre borras de 28 meses. A singularidade, pureza aromática e uso judicioso de madeira são as principais características dos vinhos Giz, deixando expressar a força e o encanto do terroir bairradino.